segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Poema de Ano Novo

ANO NOVO 

Meia-noite. Fim 
de um ano, início 
de outro. Olho o céu: 
nenhum indício. 

Olho o céu: 
o abismo vence o 
olhar. O mesmo 
espantoso silêncio 
da Via-Láctea feito 
um ectoplasma 
sobre a minha cabeça 
nada ali indica 
que um ano novo começa. 

E não começa 
nem no céu nem no chão 
do planeta: 
começa no coração. 

Começa como a esperança 
de vida melhor 
que entre os astros 
não se escuta 
nem se vê 
nem pode haver: 
que isso é coisa de homem 
esse bicho 
estelar 
que sonha 
(e luta). 

 

                                                 Ferreira Gullar


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